segunda-feira, 7 de julho de 2008

Habilidades comportamentais influenciam em tratamento anti-HIV

Uso correto do medicamento antiretroviral é a melhor alternativa para os soro-positivos em busca de uma melhor qualidade de vida.

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) continua fazendo vítimas fatais, apesar dos avanços existentes relacionados o coquetel antiretroviral (ARV), por exemplo, proporcionou muitas melhoras como a diminuição do número de comprimidos, que passou de 12 para quatro ao dia, e minimizou os efeitos desagradáveis da ação do medicamento no organismo infectado. Contudo, a não-adesão, que é o abandono ou uso inadequado da medicação com ARV, acaba sendo um dos fatores de maior ineficácia ao tratamento para portadores do HIV. Em pesquisa de doutorado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), a médica e psiquiatra Rosa Garcia Lima, estudou os componentes da adesão ao tratamento antiretroviral em pacientes portadores de HIV. Ela avaliou aspectos psicológicos e depressivos, tendo como elementos determinantes à interação do paciente, um trio imbatível na luta contra a AIDS: a informação, a motivação e as habilidades comportamentais.
O Boletim Epidemiológico 2007, do Ministério da Saúde (MS) traz dados sobre a proporção de pessoas que continuaram vivendo com o HIV em até cinco anos após a descoberta da doença. O estudo foi feito com base no número de pessoas infectadas pelo vírus. Os dados apontam que cinco anos depois de diagnosticadas, 90% das pessoas com AIDS no Sudeste estavam vivas. Nas outras regiões, os percentuais foram de 78%, no Norte; 80%, no Centro Oeste; 81%, no Nordeste; e 82%, no Sul.
A análise mostra, ainda, que 20,5% dos indivíduos infectados no Norte haviam morrido em até um ano após a descoberta da doença. No Centro Oeste, o percentual foi de 19,2% e no Nordeste, de 18,3%. Na região Sudeste, o indicador cai para 16,8% e, no Sul, para 13,5%. A média do Brasil foi de 16,1%. De 1980 a 2006 o total de óbito causada pelo vírus no Brasil foi de 192.709 casos. Em três décadas houve uma redução de 30% de mortes, devido aos ARVs criados e aperfeiçoados para o combate ao vírus da AIDS. A pesquisa detectou que o uso do medicamento assegura ao paciente uma melhor qualidade de vida, evitando o desenvolvimento de doenças oportunistas.

METODOLOGIA
O trabalho foi desenvolvido a partir de dois questionários, o primeiro averiguou sobre quem faz uso ou não a terapêutica e quem aderia ao tratamento, mais e menos. Enquanto o segundo pesquisou a grau de ansiedade do indivíduo que tinha depressão e se este fator tinha relação com a aderência a ele. De acordo com os resultados preliminares os pacientes deprimidos não mostraram diferenças estatísticas significantes em relação à adesão quando comparados aos não deprimidos. Contudo a depressão tem sido apontada com fator de risco importante ao tratamento.
A pesquisa estudou 182 pacientes que já faziam uso com antiretroviral há pelo menos um ano. Entre eles adultos, portadores de HIV/AIDS, em acompanhamento no Centro de Referência Estadual de AIDS (CREAIDS) e no ambulatório da Unidade Docente Assistencial de Infectologia (UDAI) do Hospital Universitário Professor Edgar Santos (HUPES).
De acordo com dados do MS, desde 1980 a junho de 2007 foram notificados 474.273 casos de AIDS no país, sendo 289.074 no Sudeste, 89.250 no Sul, 53.089 no Nordeste, 26.757 no Centro Oeste e 16.103 no Norte. No Brasil e nas regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste, a incidência da doença tende à estabilização. No Norte e Nordeste, a tendência é de crescimento de portadores do vírus. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil tem uma epidemia concentrada, com taxa de prevalência da infecção pelo HIV de 0,6% na população entre 15 a 49 anos.

Trio de Ouro
Tendo como princípio norteador a informação, Rosa relata que é necessário que o paciente saiba tudo sobre a doença, a forma de contato, o papel do tratamento e os efeitos colaterais, para sua decisão de fazer uso da medicação. “Quando ouço a palavra AIDS, corro para frente da TV, querendo saber o que há de novo”, diz C.B, 30 anos, portador do vírus há quatro anos. Segundo a pesquisadora, informação é trabalhar com o paciente tudo sobre a doença, são as possibilidades de cura, de melhoria na qualidade de vida, resultando na motivação dele querer ficar bem.

Outro fator importante é a motivação, que depende principalmente da conscientização do paciente. “Quando eu descobri que estava infectada, há seis anos, a primeira coisa que veio a cabeça foi à morte. Com o decorrer do tratamento, vi a minha recuperação. Hoje posso dizer que tenho uma vida normal”, declarou R.M.S, 28 anos. Para a pesquisadora o mais importante na vida de um indivíduo infectado pelo vírus é a saúde. E que a AIDS é uma ameaça à vida e que pode ser combatida com o ARV.

Já, as habilidades comportamentais, têm haver com a adequação aos horários do paciente, a adaptação a uma nova forma de seguir a vida. Ele deve fazer a adesão da medicação de forma contínua e sem falhas, imposta pelo tratamento que tem prazo indeterminado, por se tratar de uma doença crônica. ”Tomo seis comprimidos, mas já deixei de tomar corretamente. Só que na consulta com a médica, disse o que fiz, e ela me alertou sobre o que poderia acontecer, pelo fato de não tomar certo o coquetel”, relata M. L., 22 anos.
A importância de empregar os três elementos que compõem a adesão conjuntamente faz com que o tratamento dê certo, favorecendo a diminuição da carga viral no organismo do soro-positivo, por conta do uso correto do medicamento. “Nos casos em que há interrupção temporária ou falha de alguma dose, isso implica na falência subseqüente da ação da medicação, devido ao desenvolvimento de resistência viral às drogas utilizadas” enfatiza Rosa.

Baixa Adesão
Diversos são os fatores que têm sido identificados em pacientes com baixa aderência. Para Rosa, o primeiro deles é o compromisso do próprio paciente em aderir ao tratamento, este precisa acreditar e querer ser tratado. Além de fatores sócio-econômicos e culturais que causam grande impacto na adesão permanente a terapêutica. Nestes estão incluídos, crenças religiosas, estigma relacionado à medicação, receio de pessoas do convívio, principalmente profissional descobrirem sobre a doença.
A alimentação inadequada, uso excessivo de bebidas alcoólicas, drogas e responsabilidades econômicas também impedem que o paciente priorize o tratamento ARV. A quantidade de comprimidos, o tempo de tratamento e os efeitos colaterais também podem influenciar a não-adesão por parte do portador do vírus. “Pouco tem sido feito para o desenvolvimento de estratégias que resultem em uma ótima adesão ao uso dessas medicações. A adesão é o resultado de uma complexa interação entre o paciente, a medicação prescrita e o sistema de saúde”, salienta Rosa.


Foram relatadas pelos pacientes como barreiras importantes para a boa adesão ao tratamento antiretroviral . Fonte: Rosa Garcia Lima

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